13 de maio de 2011

Churrasco da “gente diferenciada” é um tapa na cara de Higienópolis

Pouco tempo antes desse texto, mais de 50.000 pessoas se inscreveram no Facebook para participar do "Churrasco da Gente Diferenciada", protesto contra o raciocínio esnobe de um grupo de 3.500 pessoas da pseudo inteligentzia paulistana que praguejavam contra a decisão de uma estação de metrô no coração do endinheirado bairro de Higienópolis.

Não sei o que é pior. A falta de raciocínio desse grupo, que gasta milhares de dólares para fazer compras na 5ª Avenida, em Nova York,– local também onde estão localizadas, na face sul, as lojas de grife mais caras da cidade - e voltam para seus hotéis nos imundos, barulhentos e sombrios vagões do metrô da cidade ou a inocência em achar que chegaria uma “gente diferenciada” só por que uma estação seria implantada no local.

Por acaso algum de vocês, que já esteve em Nova York, se lembra de “gente diferenciada” diante da estação da Avenida Lexington com a rua 59? Sinceramente, não!

Não tiro a razão de quem diz que a minha São Paulo é elitista e excludente, individualista e preconceituosa quando fatos assim ocorrem. Mas, ao invés de pegar em armas, sair atirando ou depredando, “a gente diferenciada” deu a melhor resposta que esses boçais poderiam ter: um churrasquinho com refrigerante barato, carne de gato e claro, pagode!

Tem tapa na cara maior que esse? Pessoalmente, não teria planejado uma réplica tão boa quanto esta que meu mais novo amigo Danilo Saraiva criou.

Resumo. As pessoas deixaram mensagens como "eu vou tomar o refrigerante barato" ou "Eu vou trazer a maionese" e ainda “Levo a carne de gato”, com mais intensidade depois que o governo do Estado de São Paulo derrubou os planos de criar a estação Higienópolis.

O Metrô disse na quarta-feira (11) que está sendo avaliada uma nova localização para a Estação Angélica da Linha 6-Laranja. Nosso querido e estimado governador Alckmin negou que a forte pressão dos moradores do bairro tenha motivado a decisão.

Mas só essa explicação não colou. O Ministério Público de São Paulo solicitou à presidência da Companhia do Metropolitano – jeito oficial de se referir ao metrô - e à Secretaria de Transportes Metropolitanos quais as razões técnicas para a mudança da estação, que agora vai ficar mais próxima do estádio do Pacaembu.

Claramente, o objetivo é saber se a pressão dos moradores contribuiu para a mudança. Ao que tudo indica, segundo argumenta o promotor Antonio Ribeiro, “não se pode aceitar a ideia de que um grupo de pressão seja capaz de determinar onde fica uma estação de metrô”.

Agora entendo o que, há poucas semanas, quis dizer o presidente do todo-poderoso país-do-norte ao afirmar que o Brasil era um exemplo da vibrante democracia que emergira após anos de ditadura.

Podemos um dia ser ricos, mas nosso caldeirão efervescente de ideias, gostos, perfeições e imperfeições vai continuar criando esse caos sensacional em que vivemos, pois não queremos ser iguais a estes quatrocentões preconceituosos.

Ao contrário, somos vibrantes justamente por que nossa civilização é imperfeita, e é graças a ela que nos damos ao luxo de chegarmos ao quintal do vizinho que atira pedras e convidá-lo para um churrasquinho.

Mas afinal, para que uma estação em Higienópolis? Estação de metrô é coisa de bairro rico, riquíssimo, eu diria até milionário. E Higienópolis, tá longe de ser isso em São Paulo, tem muitos outros bairros mais chiques.

Frases

"Eu não uso o metrô. Isso vai acabar com a tradição do bairro", psicóloga Guiomar Ferreira a um repórter para folha.com.

"Você já viu o tipo de pessoas que estão ao redor das estações de metrô? Viciados em drogas, mendigos ... gente diferenciada”.

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