Desde que cheguei ao Rio de Janeiro descobri como é fácil identificar de onde são algumas pessoas. Carioca que é carioca nasceu na Tijuca ou no Meier. Desculpem-me os amigos dos outros bairros, mas o sotaque carioca que o Brasil conhece a gente só encontra nestas duas vizinhanças. Detalhe: dois lugares sensacionais!
O Rio é uma das poucas cidades em que seus cidadãos têm raízes fortes com o bairro que vivem, de forma que o sotaque, a roupa, o modo de agir ou pensar - entre outros quesitos – entrega com pouca margem de erro a vizinhança da pessoa em questão.
Mas como bom paulistano, não há nada mais interessante que observar os “tipos” nas praias da capital fluminense. E não falo só dos tipos do Rio de Janeiro. Sem dúvida, entre mineiros, goianos, paranaenses, pernambucanos, capixabas e tantos outros gentilícios brasileiros, o mais “identificável” em uma multidão somos nós, os paulixxxtas. Peço desculpa pela segunda vez em menos de três parágrafos, mas nós paulistas somos muito bregas fora da nossa gaiola.
Vou enumerar em alguns pequenos pontos:
1 - Paulista vai para o Rio e acha que Corcovado e Pão de Açúcar são o mesmo morro: levanta a mão o primeiro paulista que nunca perguntou se o Cristo ficava no Corcovado ou no Pão de Açúcar?
2 – Paulista fica estressado com a demora do metrô: em média, o metrô do Rio de Janeiro - em dias úteis – leva entre 2 e 3 minutos para passar, tempo mais que suficiente para que qualquer paulista corte os pulsos, acostumados com os 90 segundos de diferença entre uma composição e outra. Pior, nos finais de semana, esse tempo no RJ pode chegar a 10 minutos, aí não tem paulista que aguente. E não adianta o Metrô Rio dizer que o tempo é menor, esse cálculo saiu de uma pesquisa informal que fiz utilizando o metrô por duas semanas consecutivas por volta do mesmo horário.
3 – Paulista se muda para a praia: a paulistada praticamente vai de mala e cuia pra areia. Cooler com cerveja, cadeira – porque paulista que é paulista não encosta na areia -, guarda-sol, toalha, canga, esteira, crianças (várias), bola de futebol, bola de vôlei, bola de frescobol, raquete, cartas para jogar truco e claro, seu shorts de praia, porque paulista que é paulista até tem sunga, mas usa por baixo do shorts.
4 – Paulista compra a praia toda: como não pode ir todos os dias para a praia, quando vai consome tudo que tem pelo caminho. O bixxcoito Globo, a esfiha árabe (completamente diferente da esfiha paulistana), o espetinho de camarão, a empadinha de carne seca, o Hareburger, a canga (que começa valendo cada uma R$ 30 e no fim leva duas por R$ 30), sem falar nas outras bugigangas.
5 – Paulista adora shopping: não adianta dizer que Botafogo é praticamente um grande cinema, paulista que é paulista quer urgentemente saber onde fica o cinema do shopping.
6 - Paulista vê fila e já vai entrando: não vou nem dar exemplo, paulista vê fila nem pergunta para o que é, “segue o fluxo” e depois questiona o que está fazendo ali há 25 minutos.
7 – Paulista odeia areia e entra de chinelo no mar: nem vem dizer que não, paulista vai até a beirada da água e pede para o colega (que odeia mar, nada mais paulista) para tomar conta do chinelo. Quando sai, fica incomodado com a quantidade de areia no pé e reclama do começo da tarde até a hora de ir embora de quem foi a ideia de ir pra praia.
8 – Paulista é exagerado: Já viu a quantidade de protetor solar que paulista passa? A mesma quantidade qualquer carioca passaria em pelo menos três pessoas.
9 – Paulista e o seu eterno assunto: o clima – Se puxou conversa sobre o tempo, é paulista. Enfrenta calor, frio, sol, chuva, tudo no mesmo dia, saí com três combinações de roupa uma por cima da outra e acha isso su-per-des-co-la-do.
10 – Paulista é rico: paulista sai no Rio e se acha rico: a cerveja é barata, a entrada na balada é barata, a comida é barata, o podrão é barato etc... Paulista acha tudo tão barato a ponto da corrida do táxi dar R$ 36 e ele entregar uma nota de R$ 50 e dizer: fica com o troco. Fato verídico.
A melhor parte de elaborar essa lista é o exercício da boa e
velha capacidade de rir de nós mesmos.